Imagem-10Todo Cirurgião-Dentista sabe o quanto a formação é importante para a profissão. Quando se dá a sorte de ter um mestre como Léo Kriger se sai na vantagem. “Devo tudo à Odontologia. É uma satisfação ter sido professor e ter ex-alunos que ainda são amigos e mandam mensagens carinhosas que me emocionam”, nos disse o professor e Cirurgião-Dentista aposentado, de 78 anos, de Gedera, cidade a 35 quilômetros ao Sul de Tel Aviv, Israel, onde mora com a esposa Helena desde 2015.Filho de pais poloneses, nascido em Curitiba, Kriger é um bom fruto da escola pública: fez o antigo ginásio e o científico no Colégio Estadual do Paraná e formou-se em Odontologia em 1965 pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Mas até se dedicar exclusivamente à saúde bucal teve uma passagem expressiva pelo jornalismo esportivo como redator no antigo Diário de Notícias. “Sempre gostei dessas duas áreas. Jornalismo sempre me cativou, era uma ‘cachaça’. Cobria esporte amador, basquete, vôlei, atletismo. Escrevi muito sobre futebol também”, conta ele, que é torcedor do Coritiba.

Embora a atração pelas manchetes dos jornais nunca o tenha abandonado, em 1980 Kriger deixou a crônica esportiva para escrever um importante capítulo na Odontologia do estado. Já com o título em Odontopediatria Social pela Universidade de Illinois, em Chicago, – bolsa concedida para professores da América Latina -, e mestre em Odontologia em Saúde Coletiva,  o Cirurgião-Dentista atuava como professor, em sua clínica no Edifício Tijucas e posteriormente em posições-chave, sempre voltado para a saúde coletiva e os serviços públicos.  “Tive o prazer de ser o pioneiro na área da prevenção no Paraná. O ex-secretário de Saúde Luiz Cordoni dizia que eu ‘arava no deserto’. E uma aluna me confessou que quando ia para nossa aula ia para aula de ‘utopia Odontológica’”, conta o professor.

Exposição de massinha

Como Odontopediatra, Léo Kriger deixou saudade. Comprava caixas e caixas de cera de molde para dar aos pequenos pacientes como forma de incentivá-los a um retorno tranquilo à cadeira odontológica. As crianças eram desafiadas e fazer pequenos modelos de animais e bonecos e apresentá-los ao odontopediatra para que as peças fossem expostas no consultório. “Era uma ludoterapia, terapia através do lúdico. Tenho ex-pacientes que são pais e se lembram disso até hoje”, orgulha-se.

A carreira no magistério foi igualmente satisfatória. Foram décadas dedicadas ao ensino. Primeiro, na sua querida UFPR, onde lecionou durante quase trinta anos. “Nosso diferencial era que levávamos alunos para fora da universidade em projetos de extensão. Havia uma Kombi adaptada, entrávamos nela, parávamos numa escola ou comunidade e os alunos faziam atendimento às crianças dessa localidade”, lembra-se saudoso.  Depois, somou na docência na PUC-PR e na Universidade Tuiuti.

Entusiasta do SUS e defensor do sistema público de Saúde, Léo Kriger contribuiu muito para a prevenção da saúde bucal no Paraná. Deste ativismo, recorda-se da relação com a ABO no programa Protegendo a Vida (1995-1996), da Secretaria de Estado da Saúde, que capacitava mensalmente 3 a 4 mil profissionais em cidades diferentes. Grandes encontros envolviam alunos de 30 cursos da área de Saúde desde Suporte de Vida (salvamento) até cursos de Auxiliar de Dentista. “Eram trabalhadas todas as questões relacionadas à saúde, incluindo a Odontologia. Convidávamos professores das universidades e de outros estados e até países para darem os cursos em cinco dias intensivos. A ABO estava presente dando suporte para a Secretaria de Saúde numa parceria fabulosa”, conta o CD, então assessor do gabinete do secretário de saúde. Além deste papel, Kriger, que hoje ocupa uma cadeira na Academia Paranaense de Odontologia, teve participações importantes como coordenador de Saúde Bucal do Estado (2011-2015) e Diretor da Escola de Saúde Pública.

Muito lúcido e irremediavelmente apaixonado pela profissão, o professor gosta de citar Curitiba e o Paraná como exemplos para a saúde pública no Brasil, lembrando que a capital paranaense foi a primeira a introduzir flúor na água distribuída à população.  “Tivemos uma grande evolução na saúde bucal e sem medo de errar ou de ser injusto com alguém, a Federal teve uma influência fantástica nesta mudança”, afirma.

Eterna namorada

A Odontologia só rivaliza em amor na vida de Léo Kriger com dona Helena, a grande companheira de vida. O casal tem uma rotina tranquila em Israel, para onde se mudou para estar mais próximos à filha Cyrla e netos. Ele considera o país seguro, moderno e organizado. A paz só está ameaçada nas fronteiras, onde atuam grupos extremistas, ou quando soam as sirenes que alertam a possibilidade de um foguete. Nesses momentos eles vão para o abrigo existente em todas as casas. “Vivemos uma vida de namorados, temos bons amigos brasileiros que reencontramos, passeamos, apesar de agora estarmos em casa. É um país com uma grande consciência social e onde o sistema de saúde funciona bem. Me trato em um hospital público que é considerado um dos dez melhores do mundo”, conta.

Para Curitiba, onde vive a família do filho Rogério, eles voltam periodicamente, preservando os laços e reforçando o desejo de um país melhor.  “Desejo fazer os outros felizes e que a gente tenha paz em Israel e no Brasil. E que tenhamos o Brasil desenvolvido, sem corrupção. O Brasil que nós sonhamos é o Brasil que pode dar certo se a gente tiver políticos honestos”, afirma.

Notícia de https://www.abopr.org.br/uma-historia-de-amor-com-a-odontologia/